terça-feira, 24 de maio de 2016

O CLUBE ACAPULCO DE MANAUS


               
Os boêmios manauaras mais antigos gostam de lembrar os clubes dançantes e dos lupanares (conhecidos como puteiros) de outrora, onde enchiam a cara, dançavam e passavam a régua nas primas – dentre eles, o Clube Acapulco aparece um pouco mais em suas reminiscência – esse clube fora nos dez primeiros anos um luxuoso cassino, frequentado pela fina e requintada sociedade amazonense.

Ficava na antiga Rua Recife (atual Avenida Mário Ipiranga Monteiro), nas proximidades da atual sede do DETRAN-AM – era o “point” de Manaus -naquela época, era um lugar longínquo, de difícil acesso, pois ficava praticamente dentro da mata.

O proprietário chamava-se Mário Oliveira que, segundo relatos, era uma pessoa benquista pelos seus funcionários, pois distribuía bônus advindos dos lucros das mesas de baralho (Bacará) e da Roleta – o crupiê era o Senhor Petruccio, pai dos irmãos Piolas (jogadores famosos em Manaus).

Naquelas imediações ficavam os balneários da Estrada do V8 (atual Avenida Efigênio Sales) e do Parque Dez de Novembro (bem em frente ao Acapulco), todos banhados pelo Igarapé do Mindú (atualmente, um esgoto a céu aberto).

O ACA como era conhecido pelos seus frequentadores, começou a funcionar em 1958 - teve o nome em homenagem a uma cidade turística mexicana, Acapulco, palco de um belo filme (1963) estrelado pelo cantor norte-americano Elvis Presley.

Era frequentado, inicialmente, pela alta“finesse”, pois o clube era muito chic (de bom gosto e requintado), com restaurante e bar de primeira, salões de dança, orquestra própria, além de apresentação de cantores da terra,  Luiz Carlos Mello (Tical, a Voz de Ouro ABC) e o Luiz da Conceição Souza Pinto (Little Box, o Caixinha) e, de renome nacional, Dalva de Oliveira, Cauby Peixoto, Ângela Maria, Edith Veiga, Agnaldo Rayol, dentre outros.

Ali funcionava, também, um magnifico cassino (atividade mais rendosa para o dono), com um belo salão para os jogos de azar, onde a jogatina corria solta, responsável pela ruína de muita gente, inclusive, dizem que o próprio dono tornou-se um viciado em jogos.

Existia somente uma linha de ônibus nos finais de semana, para as famílias usufruírem do fabuloso balneário do Parque Dez – aqueles que desejassem frequentar, à noite, o Clube Acapulco, o acesso era somente através de automóveis particulares ou com os choferes de praça (táxi).

Certa vez, folheando o jornal “A Crítica”, de Dezembro de 1959, na Biblioteca Pública do Amazonas, encontrei um anúncio do Acapulco Clube:

“Amanheça com sua família o ano novo na mais bonita “boite” do Brasil “ACAPULCO” que lhes proporcionará – ambiente, conforto, diversões, luxo e um perfeito serviço de bar e restaurante. Com a participação de ALCIDES GERARDI – lançando músicas novas do Carnaval de 60. Nos dias 1º. e 2 de Janeiro exibir-se-á a grande orquestra de GUIÃES DE BARROS. DIA 2 SÁBADO – 1º. GRITO DE CARNAVAL – Espetacular – Fabuloso – Estupendo – Sensacional. NOTA: a Direção do NIGHT CLUB ACAPULCO avisa que permitirá durante a temporada carnavalesca traje esporte decente em todas as suas dependências. Para evitar desagradáveis contrariedades não se façam acompanhar de criaturas não recomendáveis”.

Lendo esse anúncio é possível verificar que o clube era familiar, luxuoso, dotado de bar e restaurante finos, orquestra de primeira, onde somente no carnaval, era permitido o traje esporte “decente” em todas as suas dependências e,barrando a entrada de “criaturas não recomendáveis” (leiam-se, prostitutas, lisos e bagunceiros).

Dizem que, o administrador do clube gostava de frequentar as rodadas de jogos de baralhono Ideal Clube (grêmio de elite de Manaus, situada na cabeceira da Avenida Eduardo Ribeiro), um vício que levou muito gente de bem à falência.

No Brasil, os cassinos foram legalizados por Getúlio Vargas, em 1938 – sendo proibido no Governo de Erico Gaspar Dutra, em 1946, permanecendo até hoje a vedação em todo o território nacional, dessa forma, o Acapulco funcionava de forma ilegal.

Na década de setenta, o Acapulco já estava em decadência, não era mais aquele clube luxuoso de dez anos atrás –fechou as portas - dizem os historiadores que o dono perdeu o imóvel numa mesa de jogos.

Depois, foi reaberto apenas como boate, virando um lugar onde as pessoas gostavam de beber, dançar e pegar as primas que invadiram o local, sendo preferido pelos jovens e adolescentes manauaras – não existiam quartinhos para os casais, como era comum nos ditos “puteiros” da cidade – fechou em definitivo em 1976.

Acabou-se o Acapulco Night Clube - ficando apenas na memória dos mais velhos aqueles tempos bons! É isso ai



Fontes:

Jornal A Crítica, edição de dezembro de 1959


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