quinta-feira, 12 de abril de 2012

VINICIUS DE MORAES E O BAR CALDEIRA DE MANAUS



VINICIUS DE MORAES – carioca da Gávea, diplomata, dramaturgo, poeta, compositor, boêmio inveterado, fumante, conquistador voraz e apreciador de uísque, o nosso eterno “poetinha”, aos 61 anos de idade fez uma visita a cidade de Manaus, pouco menos de seis anos antes do seu falecimento - resolveu bater o ponto no “Bar do Caldeira”, centro antigo de Manaus.

A fotografia antiga é de 13 de Setembro de 1974, aparecendo o poeta sendo paparicado pelo então vereador Fábio Lucena (de gravata), professor Valdir Garcia (de gravata), radialista José Maria Pinto (blusa estampada) e por outros boêmios.

Ele gostou tanto do boteco que deixou para a posterioridade um bilhete “Declaro, proclamo e assino que nesta sexta-feira, 13 de mês de Setembro de 1974 estive no “Caldeira”, na boa e carinhosa companhia dos maiores boêmios de Manaus. E adorei. Vinicius de Moraes, 13.9.74”.

BAR DO CALDEIRA AOS DOMINGOS - Para quem não sabe, de segunda-feira a sábado o bar é administrado pelo Adriano Cruz, um descendente de português, nascido no Careiro da Várzea, interior do Amazonas, ele toca o estabelecimento com a mão de ferro, não permitindo ninguém tocar qualquer instrumento, muito menos, cantar qualquer canção, porém, no domingo a coisa toda muda de feição, o comando do bar fica sob a batuta da Dona Maria, uma portuguesa- cabocla, católica fervorosa e, que adora ver o seu bar cheio de músicos, cantores e beberrões.

O Adriano Cruz por ser um pouco turrão com a maioria dos clientes, no domingo, ele é barrado no baile; chega por lá por volta das 15 horas, na qualidade de consumidor, não é permitido dá “pitaco” e nem se intrometer no bar; sempre vem acompanhado da sua esposa, trazendo sempre um tira-gosto para os amigos – neste dia, ele é outra pessoa, toma todas, dar gargalhadas, conta piadas e fica gozando das caras de uns e de outros.

O único dia em que a Dona Maria não vai à missa é exatamente no dies dominicu “domingo, o dia do Senhor”, o dia do descanso para os católicos - ela esquece a igreja e a sua religião, acorda cedo e se desloca para o seu bar, abrindo ao público exatamente às oito da manhã e, fechando somente doze horas depois.

Conta com o apoio de outro irmão, o Arnaldo, um cara calmo e tranquilo, sendo escalado para pegar no pesado, fazer a segurança, além de atender ao pessoal que fica na parte externa do bar.

Existe um pessoal que frequenta somente pela parte da manhã, eles gostam de tocar violão acústico e cantar as melhores músicas da nossa MPB, além de consumirem bastante “loura gelada” – este seleto grupo é formado pelo Paulo Farmacêutico, Ornan, Cláudio Amazonas, Kátia Maria, Neto do Pandeiro, Rinaldo Buzaglo, dentre outros.

A partir do meio-dia pinta no pedaço o pessoal considerado “profissional”, chegando a hora de uma parte da turma do acústico cair fora, pegar o beco! O Roberto Paraense monta os equipamentos e, começa o show, com muita música samba-canção e boleros, entrando em campo os cantores: Cabral, Lúcio Bahia, Celestina, Doutora Graça, Katia Maria e Nazaré Lacute – acompanhado pelo Jorginho, Garoto (Wilton) & Geralda, Roberto, Neto, Buriti, Flavio de Souza, Zé da Manola, Moisés, Marcia & Augusto e, muita gente boa!

Depois das três da tarde começa a chegar mais gente, o bar fica entupido até o tucupi, com turistas, jovens estudantes, professores universitários, além de muita gente da terceira idade.

O Jokka Loureiro traz uns petiscos para a galera, depois dá uma palinha, cantando muita musica de puteiro. O Sacy da Aparecida faz o diabo na percussão, fazendo umas performances um tanto sensual.

O samba impera, tomando a conta do pedaço, com o Mark Clark e o Manoelzinho fazendo miséria no Cavaquinho e, com o Negrão e Moisés no Violão. A disputa fica feia, com muitos cantores novatos querendo fazer bonito. Dando a conta do recado: Telba, Dom Pedrito, Floriano, Celestina e a Graça Silva.

Até as oito horas da noite, o bar fica apinhado de gente cantando, dançando e bebendo. Quem passa ao largo, fica admirado em ver aquelas pessoas esbanjando muita alegria e descontração. E isso ai, até domingo no Bar Caldeira!


Aviso aos navegantes: o bar fica na Rua José Clemente, no. 237, esquina com a Rua Lobo D´Almada (atual Rua dos Prazeres), telefone 92 3234-6574 – o nome é em decorrência de uma explosão de uma caldeira do Hospital Santa Casa de Misericórdia, uma parte do tanque foi parar bem perto do Ba
r.

Vinicius de Moraes e fotografia ==> fonte: Amor de Bica (Simão Pessoa) 

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