sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

CRÔNICA ROMÂNTIGA DE ADEUS AO RODOWAY (L. RUAS)

Posto que, sendo do Porto,

Sempre foste caminho de partida
Ou barco de ferro e Pinho
Que os ingleses ancoraram
Nas margens do Rio Negro.
Era pista "Caminho britânico
Flutuando
Nas Índias Águas do Rio
Que viu, espantando, surgir
No meio da selva bruta
Onde ainda ecoavam Nitidos
Os sons rudes dos Manaus,
Uma clareira de sonhos,
De látex e de libras esterlinhas.
Foste estrada "e rodo"
Mas, posto que sempre foste
Porto - Caminho de partida
Também foste caminho de chegada.
(Chegada de mais talvez, que de partida).
Pela ponte de Pinho
Louro e de ferro negro
Legiões de marujos desfilaram
E de artistas, empresários e turistas
De Além - Mar chegados, fascinados
Pelo encanto da floresta - Mãe
Onde se arrancava da tetas vegetais
O leite branco que se mudava em ouro
Francesas, espanholas e polacas,
Para gozar nas camas dos bordéis
O ouro fácil em que se transmudara o sangue, o suor, a febre delirante Dos seringueiros - parias do Nordeste.
E foi por tua ponte flutuante
Que chegaram como "levas" nordestinas
Dos "brabos", dos "Soldados da Borracha"
Encantados seguiam Que, enganados,
Para os "centros" - Seringais distantes
Do Purus, Acre, Madeira e Juruá
Onde findavam - finavam - escravizados.
Passarelas de dor e sofrimento!
Passarela de luxo, amor e sonho!
No teu ritmo binário que acompanha
O ritmo binário deste rio
Que todo ano sempre desce e sobe,
Também foste Termômetro da morte e da vida que todas as enchentes
E vazantes Fatalmente ofertam
Aos homens e mulheres como ribeirinhos
E às roças e animais da Várzea.
Mas, que importa!
Ficaste,
Flutuante
Lembrança de um tempo que ficou, também, outros monumentos em vários
Erguidos Sobre as bases do martítio
MILHARES DE, devorados pela selva
E pela ambição do lucro fácil.
Que importa!
Ancorado tanto tempo ficaste
Mas, também, nas páginas da história de um povo que, aqui nesta cidade Dos extintos Manau Viveu sempre
A longa espera de um amanhã melhor.
Caminho para a água da terra;
Caminho da cidade para o rio;
E caminho do rio para o mar;
No balanço macio da tua ponte
Todos nós de Manaus, em ti, deixamos
Uma pegada da vida que partimos
Dentro em pouco será simples lembrança,
Pois, tuas linhas arquitetonicas Serão
Destruídas, apagadas, Distorcidas
Em nome de um progresso que poucos une
Gozarão.
Toda a história se repete.
"Roadway" dos engenheiros ingleses
Ou rodo "dos caboclos de Manaus!
Aqui fica este adeus de quem te viu, menino
E, por ti - uma vez - partiu sonhando
Os mais belos sonhos que quer sonhar eu pude.
Adeus, pavimento flutuante Velho,
Docemente embalado pelos rítmos
Morenas Das águas do rio Negro.
É teu fim Chegado.
Exige-um imperativo este assim rude Progresso fazer.
Mas, em mim, como te vi, tem de ficar;
Dourado pelos raios do sol quente
Ou pratas banhado pelas do luar.

O presente texto, decorre do original localizado nos arquivos da Secretaria de Estado da Cultura do Estado do Amazonas. Julga-se ser primeira edição e serve para homenagear o ilustre professor religioso, escultor e filósofo.

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