sábado, 2 de janeiro de 2010

VIAGEM PELO RIO AMAZONAS - PAUL MARCOY



O livro “Viagem pelo Rio Amazonas”, de Paul Marcoy, com tradução de Antonio Porto, foi republicado pela Editora da Universidade Federal do Amazonas - EDUA e, está disponibilizado, digitalmente, no sitio da Secretaria de Cultura do Estado do Amazonas - SEC; esta obra foi lançada originalmente faz mias de um século e meio; o autor relata a sua viagem desde a fronteira peruana até a cidade de Belém do Pará; foram três mil e trezentos quilômetros percorridos, durante quatro meses, em meado de 1847. Abaixo, transcrevo parte do livro, sobre os relatos do autor sobre a cidade da Barra do Rio Negro, denominação antiga da cidade de Manaus.


“... A cidade moderna em que acabamos de chegar é chamada pelos brasileiros A Barra do Rio Negro. Situa-se a leste da fortaleza, a cerca de mil passos geométricos do sítio de Manaos. Ela está constituída numa superfície tão irregular que chega a ter  morrinhos mais altos do que os telhados das casas, o que seria pitoresco se não fosse absurdo. Uma longa avenida, larga e ondulada, estreita aqui e acolá por muros desalinhados e sacadas proeminentes, corta a cidade de norte a sul. Algumas vielas saem desta rua em direção ao leste, enquanto a oeste há uma série de grandes espaços vazios. Três riachos providos de passarelas serpenteiam pela cidade e servem de docas e estaleiros para a sua flotilha mercantil. A Barra é habitada por três mil almas, dois terços das quais constituem a população permanente e os demais a temporária. O numero de casas á avaliado em 147. São casas espaçosas e bem ventiladas, mas geralmente carentes de qualquer conforto e mobílias. Todas tem hortas ou pequenas áreas cercadas, mal conservadas e invadidas pelo mato. Os habitantes da Barra dedicam-se exclusivamente ao comercio, sendo alguns deles atacadistas e outros varejistas. Os atacadistas recebem do alto Amazonas consignações de chocolate, café, pirarucu, salsaparrilha, manteiga de tartaruga e de peixe-boi, óleo de andiroba, copaíba e outras mercadorias que não preciso aqui enumerar. Esses produtos lhe chegam em pequenos lotes e são armazenados e despachados para Belém do Pará, onde parte é consumida e outra parte exportada para a Europa. Os varejistas tem nos seus porões pequenas lojas que lembram as tiendas-bodegous  das cidade do Peru. Encontra-se nelas artigos de algodão, misturados a toucinhos, rendas e lingüiças, peixes salgados e chapéus de palha, aguardente e botinas, feijão seco, pregos de carpintaria e centenas de outros artigos de notória utilidade. A adoção da moda francesa pelas pessoas abastadas. Durante a minha estada na Barra, os meus dias foram conscienciosamente divididos entre trabalhos, banhos, siestas e passeios. De manhã e à tarde eu descia ao rio para me lavar e contemplar a sua vasta extensão de água, preta como ébano, límpida como cristal e sempre um espetáculo magnífico, seja que nas diferentes horas do dia o sol lhe desse um brilho vermelho ou purpúreo, seja que a lua difundisse sobre ela a sua luz prateada, seja que um milhão de estrelas cintilasse nas suas profundezas sombrias. Não encontrei flores exóticas nem frutos estranhos, encontrei ao menos uma serraria gerida por um escocês e movida pela força hidráulica de um riacho. Encontrei algumas paisagens notáveis, a primeira é denominada, como observatório natural, pela sacada de madeira da igreja de Nossa Senhora dos Remédios, uma modesta capela coberta de palha, deste sitio relativamente elevado a vista alcança, de um lado, as casas da cidade, seus quintais, áreas e pequenas hortas, as docas fluviais, as pontes de madeira, os barcos parados e a relva verde das orlas ribeirinhas; a norte, a leste e ao sul a mata rodeia tudo como um paredão e a oeste, entre dois morros, vê-se um amplo trecho do rio Negro parecendo um pedaço de mármore preto incrustado num mosaico. A segunda vista é alcançada da colina da antiga fortaleza em ruínas. Menos rica em detalhes do que a primeira, ela supera na grandeza de seus traços e na majestade do conjunto, compõe-se de uma única curva do Rio Negro. Haviam-se passado quinze dias desde a minha chegada à Barra, a chalupa Santa Maria, que iria me levar ao Pará havia completado sua carga e estava fundeada à espera do momento de partir, o aviso me foi dado uma manhã, as onze; depois de descer a correnteza por uma hora e passar pela boca do rio Negro, desfraldamos as velas e aproveitando ao máximo o vento viramos a bombordo e ingressamos no baixo Amazonas...”.


Esta obra nos traz uma oportunidade impar, para voltarmos ao passado, vale a pena ler na sua totalidade, basta fazer o download na internet.


Com relação ao Lugar da Barra, a escritora  Etelvina Garcia, escreveu o seguinte : Manaus nasceu aldeia mestiça de índio com português, e de tanto ouvir dizerem "sou da Barra", "aqui é a Barra"..., Lugar da Barra se chamou. Conservou o nome de batismo até 1833, quando foi elevada a vila e depois se tornou a sede do termo principal da Comarca do Alto Amazonas. Passou então a chamar-se Manaus e ganhou sua própria estrutura administrativa e judiciária.


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