quarta-feira, 30 de julho de 2008

CIRANDA DE MANACAPURU



Manacapuru, cidade próxima a Manaus, faz parte da Região Metropolitana de Manaus, conhecida por “Princesinha do Solimões”; no mês de agosto realiza-se naquela cidade o maior e melhor festival de cirandas do país; é uma grandiosidade o espetáculo, perdendo somente para a festa dos bois em Parintins. Construíram até o Cirandrodomo, no Parque do Ingá, para abrigar uma multidão de espectadores, na apresentação das agremiações Flor Matizada, Guerreiros Mura e Tradicional.

O Simão Pessoa conhece muito bem essa história (2004, p. 41, Folclórico Político do Amazonas).

Diga lá Simão!

[...) março de 1966. O professor de Português do Colégio Comercial Sólon de Lucena, em Manaus, José Silvestre do Nascimento e Souza foi chamado um dia na sala da diretoria pelo então diretor Bartolomeu Dias de Vasconcelos.
- Silvestre, meu caro amigo, você conhece algum cordão folclórico desses que se apresentam ao público por ocasião das festas juninas? – indagou o diretor.
- Conheço vários deles, inclusive alguns que ainda não se apresentaram aqui em Manaus, o Barqueiro, o Cacetinho, e a Pomba – respondeu Silvestre. “Minha família colocou várias dessas danças em Tefé e eu tenho em casa tudo anotado a respeito”.
- Então, meu querido amigo, você gostaria de cooperar com o nosso colégio, montando um desses cordões que conheces tão bem? – insistiu o diretor.
- Claro que quero, será um prazer, mas desde que eu possa contar com o seu apoio total e sua irrestrita colaboração – devolveu Silvestre,
- Está certo, podes contar comigo e com os demais professores do colégio. Eu vou ter logo uma converso com eles! – encerrou Bartolomeu, dispensando o professor.
Silvestre recrutou os músicos, escolheu os alunos e começou a ensaiar uma brincadeira junina na quadra da escola.
Dois meses depois, ele foi chamado às pressas na sala da diretoria do colégio, onde se deparou com uma senhora quase discutindo com o diretor.
- Este aqui é o professor Silvestre, madame! – disse Bartolomeu.
Sem perda de tempo, a mulher foi logo soltando os cachorros:
- Foi ele que faltou com o respeito com a minha filha!
Silvestre quase caiu para trás.
Apesar de jovem e boa-pinta, ele era decente e íntegro até a medula. Não havia nenhum hipótese de o professor envolver-se com alguma “lolita” do colégio. Como não tinha a menor idéia do que diabo estava acontecendo, ele pediu para falar com a suposta “vítima”.
Daí a pouco entrou na sala uma menina loura, com cerca de 11 anos.
- Minha filha, eu faltei com o respeito a você em algum momento? – insistiu Silvestre.
- Não professor, foi a mamãe que não entendeu! – explicou a garota. “Ontem, nós estávamos almoçando em família, eu, papai, mamãe e meus irmãos. Ao terminar o almoço, eu me dirigi à mamãe pedindo-lhe: mamãe, a senhora permite que eu dance na Pompa do professor Silvestre?... Aí, ela quase teve um troço!”
- A sua filha estava com razão ao lhe fazer aquele estranho pedido, minha senhora! – esclareceu Silvestre polidamente. “A Pomba” é o nome de um cordão folclórico que estou ensaiando no colégio a pedido do diretor. Se a senhora quiser, pode aguardar alguns minutos, até a hora do recreio, quando realizarei o ensaio que estava programado para sexta-feira.
Ainda contrariada, a mulher questionou:
- Por que o senhor não muda o nome do cordão para Pombo?... Pomba é meio pornográfico...
- Vou pensar seriamente no seu caso! – avisou o professor.
Depois do terceiro ensaio, para evitar novas aporrinhações, ele resolveu parar de ensaiar a “Dança da Pomba” e começou a ensaiar a “Dança da Ciranda” (que se tornou conhecida como “Ciranda de Tefé”), contando com a colaboração de dois conterrâneos tefeenses, Ambrósio Ramos Correa e Gaudêncio Gil. O resultado foi a criação de um dos mais bonitos e aplaudidos cordões folclóricos de todos os tempos, que ganhou o Festival Folclórico de Manaus daquele mesmo ano.
No inicio dos nos 80, sob a orientação do próprio Silvestre, a professora Perpétuo Socorro de Oliveira levou a brincadeira para Manacapuru, montando a ciranda “Flor Matizada” na Escola Estadual de Nossa Senhora de Nazaré. O sucesso foi imediato e, rapidamente, duas outras escolas entraram na brincadeira: a Escola Estadual José Mota, que criou a ciranda “Guerreiros Muras”, e a Escola Estadual José Seffair, com a sua “Ciranda Tradicional”.
Em 1997, o prefeito de Manacapuru, ângelus Figueira, organizou o 1º Festival de Cirandas no município, dando um caráter competitivo às apresentações, o que proporcionou um verdadeiro salto de qualidade na brincadeira. O resto, conforme se diz, é história [...].